
CEO da Eletrobras pede demissão e reforça temor sobre privatização | Invest
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O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior: pedido de demissão depois de quase cinco anos à frente da estatal (Germano Lüders/Exame Hoje)
Wilson Ferreira Junior, CEO da Eletrobras (ELET3; ELET6), pediu demissão do cargo neste domingo, 24, segundo fato relevante que acaba de ser divulgado pela estatal. O executivo, que alegou razões pessoais, continuará no cargo até o dia 5 de março. Não há por ora um sucessor anunciado.
Ferreira está na presidência da principal estatal de energia do país desde meados de 2016, quando assumiu no governo do então presidente Michel Temer. Um dos executivos mais respeitados no setor, Ferreira se notabilizou pelo trabalho à frente da CPFL Energia, que comandou entre 2002 e 2016.
A saída de Ferreira deve acentuar os temores de investidores com o abandono, na prática — embora ainda não no discurso oficial –, da agenda liberal e de privatização do governo de Jair Bolsonaro. Na semana que passou, o senador Rodrigo Pacheco, candidato à presidência do Senado, colocou em dúvida o projeto que prevê a venda do controle da estatal.
As ações da Eletrobras que fazem parte do Ibovespa recuam mais de 17% em 2021 e cerca de 25% em 12 meses, na contramão de valorização de companhias do setor cujo controle está com o setor privado. Para analistas, a dificuldade em avançar com o plano de privatização reflete o espectro da ingerência política na estatal, subtraindo valor da companhia.
A forte resistência política e a falta de apoio do presidente contribuíram para que o programa de privatizações prometido ainda na campanha eleitoral de 2018 não seguisse adiante, o que motivou a saída de importantes atores.
Salim Mattar, secretário especial de Desestatização e Privatização, pediu demissão em agosto do ano passado; semanas antes, havia sido a vez do então presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes. Em comum, ambos se queixaram das resistências políticas às privatizações.
No fim do ano passado, o presidente do conselho da Eletrobras, José Guimarães Monforte, já havia renunciado ao cargo alegando também razões pessoais. A saída de Monforte, um respeitado e experiente profissional na área de governança corporativa, já havia despertado a atenção e os temores de investidores.
A saída abrupta de Ferreira Junior tende a aumentar a desconfiança do mercado, especialmente se o sucessor não for reconhecido como alguém independente.
Ferreira Junior assumiu a Eletrobras com a missão de preparar a estatal para a privatização, por meio da venda de distribuidoras deficitárias, a redução do quadro de funcionários e de ineficiências operacionais. Havia no radar tanto a possibilidade de venda de fatia via leilão como da diluição da participação da União via ofertas de ações.
Mas, apesar do endosso do então ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o plano de privatização não saiu do papel. Parlamentares próximos a estatais que fazem parte da holding Eletrobras, como Furnas, Chesf e Eletronorte, lideraram o movimento contrário à privatização.
Com a mudança de governo, Ferreira Junior foi convidado a continuar no cargo pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que pretendia fazer das privatizações um dos principais pilares de sua prometida agenda liberal.
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